quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Conto 2° Parte - O labirinto escaldante.

Já há dois dias o jovem meio-elfo tentava em vão descer aquela montanha solitária, seu coração pedia para chegar às planícies abaixo, mas ele não conseguia achar o caminho em meio àquele emaranhado de rochas agudas, parecia haver se perdido em um labirinto, cheio de corredores que não davam em lugar nenhum.

Não conseguia nem achar o caminho de volta ao mosteiro, não que ele tencionasse retornar ao antigo lar, pois sabia que as portas não lhe seriam abertas jamais, porém, retornar ao ponto de partida poderia ajudá-lo a encontrar uma trilha melhor.

Respirou profundamente, não adiantava agora se agitar, o melhor nesse momento seria usar a razão, relembrar como havia chegado àquele labirinto rochoso, quase sobrenatural, que de alguma forma a natureza construiu em torno do que deveriam ser as trilhas da montanha.


Ele recapitulou o início de sua descida, lembrava-se de estar encantado pela primeira vista da planície, o sol se punha a oeste, quase beijando a terra onde se encontravam no horizonte, lembrou-se de ter começado a descer tranquilamente pela trilha que saía do monastério até os campos de plantações dos monges, pensava que era possível a partir dali chegar às planícies, mas ao chegar lá viu que os monges foram engenhosos em seu sistema de plantação, pois esse ficava em uma parte mais plana e larga da montanha; não dava para plantar muita coisa, mas era suficiente para o sustento do monastério e dos animais que providenciavam outros suplementos.

Passou pela trilha que cortava a plantação e seguiu o seu serpentear abaixo pela montanha quase como o coriscar de um relâmpago, mas após alguns minutos de decida ele se viu frente a um abismo, abaixo podia ver a base da montanha, mas devia estar muito distante para que sua pequena corda lhe proporcionasse a segurança adequada.

Ficou ali parado bastante tempo, até que começou a escurecer e ele resolveu acampar onde estava, retirou seus suprimentos e comeu um grande pedaço de pão duro, para ajudar a descer, bebeu um bom gole de água do seu cantil.

Após sentir-se satisfeito com essa pouca comida, que era a porção noturna de todo monge desde que ele se lembra, ele fez suas preces, rogando a seu deus que o próximo dia fosse cheio de aventuras.
Talvez Tripole tivesse escutado seus desejos, e lhe atendeu muito provavelmente, mas com o sempre digno conselho “Cuidado com o que pedis”.

Depois, enrolou-se em seu improvisado saco de dormir e sonhou como seria estar nas planícies e chegar a Roses para ver os cavaleiros, mais tarde ele pensou: “pois é, como o destino nos prega peças”.

No meio da noite foi acordado por aquele grito sobrenatural, o céu estava revolto, cheio de nuvens que se moviam muito rápido, próximo ao rasgo que há um ano surgiu nos céus de Endiness, estava tudo vermelho, como uma ferida inflamada e do rasgo semiaberto descia fogo em forma de bolas gigantescas que caiam por toda parte.

Ele viu que uma dessas bolas de fogo iria atingir exatamente onde ele estava e em um ato reflexo uniu seus gritos ao do céu e saltou, mas havia no calor do momento esquecido que estava próximo à beira do precipício e acabou de saltar para ele.

A queda deveria lhe ter sido fatal, mas ele lembrava de ter batido em algumas rochas com muita força enquanto caía, isso o fez perder a consciência. Quando acordou, por algum milagre, estava nesse emaranhado de rochas pontiagudas e chão muito irregular, estava muito machucado, logo percebeu o pior: todos os seus mantimentos e acessórios para a viagem estavam na base de onde havia caído.

Moveu-se com muita dificuldade e buscou um local à sombra de uma das rochas, pois o sol estava quase o fritando, mas, ao se aproximar da rocha, sentiu que a mesma estava tão quente que seria impossível recostar-se nela, ali percebeu que não tinha escapatória, o astro rei judiava daquele solo sem pena todos os dias do ano, pois, quando em seu ápice, o sol ficava exatamente acima da montanha, o que fazia a mesma quase não ter sombras e esquentar a ponto de o solo ser todo rachado.


“Por isso que fazia tanto calor no mosteiro – pensou”. 

Após recuperar-se um pouco, rogou com toda fé a Tripole que o curasse e que lhe providenciasse ao menos água para aplacar um pouco o calor. Talvez Tripole realmente goste dos aventureiros loucos o suficiente para se jogarem em um precipício, pois foi graças à intervenção do deus que o jovem clérigo havia sobrevivido à queda, e agora o deus das aventuras mandou uma pequena nuvem de chuva sobre a cabeça de Derek, ela não durou nem mesmo 10 segundos, mas foi suficiente para curar um pouco suas feridas e aliviar nem que seja um pouco o calor escaldante capaz de deixar qualquer um louco. Assim que a nuvem se foi, o jovem viu que havia se formado uma pequena poça de água.

Na falta de ter como armazená-la, Derek, com medo que o calor escaldante do lugar fizesse a água evaporar, logo tentou beber de vez, o que o fez engasgar e quase pôr tudo para fora, depois bebeu com mais calma até sentir-se saciado e passou a andar para ver se escapava daquele lugar medonho.

Andou o dia todo e a única coisa que comeu foram alguns cogumelos que ele encontrou e sabia serem comestíveis, a noite chegou mais uma vez e ele, ainda preso naquele emaranhado de rochas, conseguiu achar um lugar para repousar, mas ficou passando mal, grande parte por causa da insolação e da pouca comida que teve, durante a noite sentiu que próximo havia uma presença sobrenatural que poderia ser ruim. Não conseguiu pregar os olhos direito.

No dia seguinte, viu que as bençãos de Tripole se repetiam e que mais uma vez tinha um pouco de água para aplacar sua voraz sede, mas nada de alimentos substanciais. Mesmo assim, agradecia o fato de ter a água, o que já era muito segundo suas circunstâncias.

Voltou a percorrer o caminho e agora nos encontramos com ele no ponto em que ele estava tendo essas lembranças.

“Noto que talvez esteja no caminho certo – pensou Derek, aliás, parece que a planície abaixo está cada vez mais perto, mas quantos dias irei ficar nesse lugar para descobrir se estou certo?“

Logicamente não obteve resposta alguma, e voltou a caminhar, hoje ele estava mais calmo e começou deveras a notar que o ambiente era um pouco diferente, já que tinha alguma sombra e rastros de alguma criatura viva, por mais que ele não identificasse o que era.

O dia se arrastou e as forças lhe faltavam, pois a parca alimentação não dava energias suficientes para tão longa caminha em terreno hostil como esse, resolveu então parar para descansar em uma sombra projetada pelo paredão da montanha, antes que o horário de ápice do sol voltasse e nem essas existissem.

Acabou por perder a consciência por alguns momentos e teve um sonho muito estranho para quem estava em sua situação. Ele se viu em um pequeno forte de onde se via uma planície que fora recentemente usada como campo de guerra, junto às muralhas do forte tinha vários corpos de soldados, uns usavam o mesmo símbolo que ele havia visto no sonho revelador que tivera, outros usavam um símbolo que era um traçado irregular de um círculo.

Dentro do forte uma grande destruição se mostrava, muito estava queimado e guerreiros feridos em todos os cantos do forte recebiam auxílio, um guerreiro chamou muita atenção quando Derek o viu. 

Ele usava uma cota de malha e uma capa elegante, não parecia nem um pouco ferido, estava empunhando uma espada bastarda muito bem detalhada em sua mão direita, não usava escudo e nem mesmo elmo, o seu cabelo era castanho e cortado rente, tinha uma grande cicatriz no lado esquerdo da face, demonstrava uma confiança muito grande ao andar, junto a um ar de nobreza não soberbo.

Ele, ao se ver observado por Derek, aproximou-se e falou com um ar agradável:

Parabéns pelo seu desempenho na batalha, mas fiquei surpreso em um clérigo de Tripole ficar só de suporte, acredito que seja seu dever abençoar com a mão esquerda e bater forte com a maça com a mão direita.

Sim, é verdade. – Respondeu Derek atônito.

Não se preocupe, nada acontece por acaso – disse o guerreiro – você está onde está para decidir se vai à frente e enfrenta todos os medos possíveis ou se desiste. Se for à frente, o seu braço direito baterá com a mais magnífica maça que você poderia imaginar, se desistir, a desonra o atormentará pelo resto da vida.

Ditas essas palavras, o guerreiro voltou-se e ia embora, quando Derek falou:

Espere! O que quis dizer? – Perguntou ao guerreiro.

Descubra você – Foi a única resposta que obteve.

Depois disso acordou, pois o ambiente voltava a ficar muito quente, quase insuportável. Derek sem aguentar, retirou sua armadura de couro e resolveu que a iria carregar, mas não usar enquanto estivesse naquele sol impiedoso.

Continuou a andar e agora tinha certeza que estava realmente descendo, pois vez ou outra tomava coragem de olhar próximo às pedras e já via que a planície estava próxima. Quando novamente o sol se punha, a esperança de encontrar a saída daquele labirinto naquele dia desapareceu.

Pois o fim do corredor que Derek seguiu coriscando a montanha dava no paredão de pedra e o perigo de saltar ainda era imenso, por causa da altura e das rochas ameaçadoramente pontudas, o clérigo se recostou sobre uma rocha que dava de frente para a muralha e encarou o paredão.

Sua grande aventura, mal havia acabado de começar e ele já se via à beira da morte por falta de alimento, já que hoje não havia comido nada. Em breve pegaria uma insolação e morreria perdido ali, vítima de uma montanha com um estranhíssimo labirinto de pedras pontiagudas que desciam serpenteando a montanha e davam para um paredão de pedra, como se a montanha solitária quisesse prendê-lo ali para ter companhia.

Passaram alguns minutos até que se lembrou do sonho.

E se realmente eu tiver sido trazido aqui por algum motivo? – Pensou.

Depois levantou-se e olhou em volta as pedras para ver se existia alguma forma de sair dali, mas depois de mais de um quarto de hora buscando uma forma de descer, já sobre a luz do luar, perdeu a paciência e deu um soco com toda sua força no paredão à sua frente.

O machucado em sua mão quase não incomodou quando ele viu que o lugar que ele tinha atacado afundou e poucos segundos depois colocou em atividade um mecanismo com polias e engrenagens de metal que moveu o grande bloco de pedra fazendo com que uma passagem se abrisse com grande estrondo e desse entrada para dentro da montanha, dessa entrada saiu um bafo que era uma mistura de coisa a muito tempo fechada e de decomposição.

Pegou o símbolo de Tripole nas mãos, o circulo cravejado com uma espada bastarda muito bem detalhada, e pediu que o deus das aventuras iluminasse seu caminho para algo que lhe parecia ser digno de ser chamado de aventura, pois essa caverna fazia seu coração palpitar de ansiedade.

E o deus das aventuras, feliz com a decisão e coragem de seu filho, lhe iluminou o caminho como ele desejava só para ver a expressão de surpresa de seu clérigo quando vislumbrou um pouco daquela caverna...


Continua... 

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